O caxiense João Lucas Albuquerque volta-se para o cotidiano à sua volta para criar seus poemas. Mas, não deixa de admitir, inspira-se em leituras de autores do calibre de Jack Kerouac (Vagabundos iluminados), Jack London (Caninos brancos), Charles Bukowski (Hollywood), Jack Krakauer (Into the wild), Hunter Thompson (Medo e delírio em Las Vegas) e Caio Fernando Abreu (O ovo apunhalado).
Aos 25 anos e formado em Serviço Social (FSG), João Lucas ainda não publicou. E como outros militantes da literatura, também encontrou na música – é baterista, percussionista e backing vocal da banda ÓoauêaÍ, com Diego Bonaldi (baixo, vocal, backings, teclado, cazu e monotron); Isabela Salles (baixo, guitarra, vocal, backings, teclado, monotron e percussão); e Allan Lazarotto (guitarra, vocal e backings) – um complemento para a sua arte.
Na banda, ouve-se influências de diversos estilos musicais, como jazz, blues, rock progressivo e psicodélico e rock nacional. Composições próprias, a serem lançadas em CD, são interpretadas em outros idiomas (português também de Portugal, inglês, espanhol e francês), com forte influência d'Os Mutantes.
“Meu trabalho resume-se basicamente em poesias sobre os relacionamentos, tanto carnais quanto sentimentais, e o fator que altera o sentimento perante o acaso dos encontros e desencontros, os sacrifícios e as perdas, mas também os ganhos”, diz, ao procurar definir o que escreve.
Mesmo admirador dos autores citados acima, justifica-se que “não há autor ou obra que inspire a escrever tais poesias, mas sim o cotidiano mesclado a diversos textos lidos (...), como forma de buscar uma base para o que será escrito”.
No entanto, reconhece que de uns tempos pra cá, a fonte de inspiração “secou” e, por isso, busca “em novos autores, textos, poemas, poesias, contos ou o que for (inspiração) para que possa voltar a escrever”. Nessa busca, acredita, abre um leque de opções “nunca antes cogitado, para assim poder continuar escrevendo”.
Leia algumas poesias reunidas sob o título Nota final.
ironia (mai: 2014)
sou luz. sou terra.
sou céu e água.
sou tudo e sou nada.
sou feito de palha,
com um coração em chamas.
sou de rimas vazias
e palavras duras.
um mar de agonias.
e por dentro,
calmaria.
minh'alma
se dissolve e,
nesse compasso,
até chove.
e assim derreto.
me desfaço em verso,
chiados de prazer.
ora, por agora é
meu dever
me construir de novo.
um novo eu? não sei como.
sou cego e enxergo,
sou de calor e de frio.
de mãos calejadas e coração puro.
sou a estrada a percorrer
o amor a encontrar
o nascer do sol
a raiar.
a brisa tão leve que me
carregue.
sou feito de visões e feitios.
sou de carne e osso,
pau e pedra.
tropeçando, correndo
trôpego,
no labirinto que construí
com fragmentos do que
um dia fui.
% (mai: 2015)
nem vi q já era demais
e em
partes, fui de menos.
ano final (nov: 2013)
faço de cada ponto
de encontro
canto de encanto
para cada novo dia
fazer de cada encontro
ponto de história
e em cada canto um ponto final
de encantos finais.
deixo pro começo
cada partícula de recanto
pra cantar teu lamento
de encontrar o ponto final.
porque depois da tempestade
a bonança se alinha.
e mostra o começo do desencanto.
quinta-feira (abril: 2012)
a noite é sempre
mais do que se
pode aguentar.
choram minhas
lágrimas para que
eu mesmo não
precise chorar
é pote de outro
no fim d'um arco
íris
que nunca termina
é verdade e exaltação
de almas que tangem
um mundo
paralelo
eu não explico
tu menos ainda.
Confira um clip da banda, com a música Hoje em dia
https://www.youtube.com/watch?v=wX2hHAa3-pQ
Dinarte Albuquerque Filho
Jornalista