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Literatura é prazer e comunhão
09/03/2016 13:26 em Book Review

A atriz e educadora, com formação acadêmica em Letras pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), Nilcéia Kremer, também conhecida por Nil, confessa que “anda confusa” quando lhe perguntam se é estudante ou escritora, já que transita entre as duas áreas. Na verdade, “não me sinto escritora, acho que não sou escritora ainda, talvez eu seja, um dia”, comenta. Além de preparar-se para o lançamento do primeiro livro (com inéditos e uma seleção do que já publicou), Kamikaze, em plataforma digital, com ilustrações de Cy Claudel, desde junho de 2015 ela “alimenta” o blog in process (http://caminhantedosolvermelho.blogspot.com.br) com suas inquietações. “Dificilmente consigo na escrita o que almejo, que é a busca pelo simples quase inalcançável e de beleza rara, ou pelo novo que burle padronizações e transcenda limitadas regras.”

Ela também tem poemas publicados nas revistas Plural e Scenarium (suportes físicos), Mallamargens, Limbo, O Emplasto, DiversosAfins, Gente da Palavra, Revista da Literatura e Arte Walking in Briarcliff (suportes virtuais), em fanzines diversos e outros blogs e sites. Com tantas publicações, essa conjuradora de palavras procura assim resumir o ofício: “Literatura para mim é, primeiro, prazer, depois comunhão.”

Antes do in progress, publicou na coletânea Sobre lagartas e borboletas, que reuniu 75 poetas de diversas gerações, estilos e países para apresentarem sua visão sobre o tema “transformação”. A compilação foi coordenada por Adriana Aneli, Adriane Garcia, Chris Herrmann e Maria Balé, ilustrada pela artista plástica Cristina Arruda e com projeto gráfico de João Baptista da Costa Aguiar e Angela Mendes. O livro leva o selo Tubap Books e interessante é que foi desenvolvido sem fins lucrativos, com a participação voluntária de todos os envolvidos: o que for obtido com venda será revertido para a ONG Mano Down, que cuida da profissionalização de crianças com a síndrome.

Nil é profunda admiradora de Hilda Hist, a contundente autora de Contos de escárnio (entre outros), mas não nega o aprendizado com outros tantos, pois, “mesmo os que não nos agradam nos apontam caminhos, no caso, os que não desejamos trilhar”. Até porque, acredita, “o ápice do trabalho de todo artista, no mínimo, é provocar o que quer que seja”.

Nesse sentido, admira o trabalho desenvolvido pela escritora caxiense Heloísa Bacichette, que desenvolve o projeto Elos do Conto, que proporciona o acesso à literatura e “sua paixão pelos livros a crianças e adolescentes em risco de vulnerabilidade social, despertando esta gurizada para a leitura e escrita, um trabalho lindíssimo”, afirma. Esse trabalho de “formiguinha” – de arregaçar as mangas e percorrer escolas, feiras do livro, praças, ruas, saraus – ela compara com o trabalho do educador, embora admita que, em ambos, existem restrições. “Na educação formal, seja por limitação (falta de boa vontade mesmo) de educadores ou por insignificante incentivo das estruturas educacionais, do poder público”, comenta.

Embora diante dessa e de outras dificuldades, reconhece que a literatura, hoje, está cada vez mais acessível, seja pelos meios virtuais ou por projetos independentes de produção e distribuição, e haja uma quantidade considerável de pessoas que escrevem, ainda assim “o número de leitores se restringe a este grupo que escreve ou que produz textos na área acadêmica”. Entende, ainda, que publicar livros hoje em dia qualquer um publica e sempre vai haver leitores para todo tipo de produção. “Me interessa saber que diferença essa obra vai fazer neste mundo cão”, questiona-se a ariana, de 35 anos, “natural deste emaranhado de egos em conflito, de toda a insignificância ‘humana’ e de Gaia, que sente na pele nossa incompetência. Acho que nasci no Limbo”, conclui.

 

Poemas de Nil:

 

A placenta que me cuspiu
do morno
jogou-me ao forno
sem piedade

 

 

nenhum pio de dó
até pão de ló tornar-me
sigo mal passada

 

 

 

 

 

 

 Dinarte Albuquerque Filho

Jornalista


 

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