Pedro Metz
 

Faz um bom tempo que conheci o Cidade. Ele e o Júnior, baixista da Viana Moog, foram no show da Pública no BR3 de São Leopoldo e ficaram encantados com o que viram no palco: minha jaqueta vermelha da Adidas era de fato invejável. Cidade planejou roubar minha jaqueta naquela noite. Soube disso anos depois, o que só fez aumentar minha admiração por ele. Mas nossa amizade só começou em outra ocasião. Porto Alegre vivia numa fase muito intensa com as bandas que estavam surgindo. Meus grandes amigos Edu e Mari começaram a produzir shows no Tear, que hoje é OX, anexo do Ocidente. E numa dessas noites assisti pela primeira vez a Viana Moog. Foi quase morte. Uma apresentação fantástica, violenta, devastadora. Fiquei deprimido de saber que uma banda daquelas existia. Repensei muita coisa depois daquele dia. Lembro de um momento em especial: no final do show eles tocavam num volume perturbador. Tisco esgaçou o sintetizador de uma maneira tão demente que quando olhei pras outras 30 pessoas que assistiam o show, todos estavam com as mãos nos ouvidos. Pensei: “não vou colocar as mãos nos ouvidos, eu consigo aguentar!” Aguentei… A banda baixou o volume e meu corpo respondeu de uma forma tão intensa que até ontem me perguntava o nome daquela droga. Essa droga se chama Cidade.

Escrever sobre o Cidade é também escrever sobre nós mesmos. Tenho a impressão que muitos que o conhecem compartilham dessa estranha identificação. Todos têm uma história para contar. Fizemos um clipe juntos pra Siléste. Um dia pra lá de especial que resultou num presente mútuo entre nós dois. Cidade é, desculpe o clichê, uma espécie de Tyler Durden às avessas da nossa geração. Uma figura absolutamente genial que carrega essa alma perdida, virtuosa e repleta de autodestruição. Queremos ser como ele, mas quem aguentaria? Esse livro revela a face mais pop de um artista incomparável, que um dia quis roubar minha jaqueta, fracassou, e acabou roubando nosso futuro.

Texto publicado originalmente no Maldita Cafeína, Link da matéria:

 http://malditacafeina.tumblr.com/post/163909953600/pref%C3%A1cio-do-livro-qui%C3%B3-de-everton-luiz-cidade