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UM ROMANCE POLICIAL, CONTOS CRÔNICAS E POESIA MUSICADA
Book Review
Publicado em 19/03/2016

Pippo Pezzini, 25, é psicólogo, músico e escritor, mas prefere assim: “Trabalho com arte.” Nascido em Curitiba (PR), tem como referências literárias Paulo Leminski, Fernando Pessoa, Milan Kundera e Jack London.

À referência de que é um escritor, prefere pegar leve. Tem um “pouco de receio de usar esta denominação”. Toca na banda Maragá ao lado de Bruno Orgiz (bateria, voz e percussão), Matheus Schumacher (baixo e voz) e Diego Viecelli (acordeon), com os quais finaliza o primeiro EP com cinco músicas. É, também, autor de canções próprias e desenvolve um projeto solo, também com composições de “própria lavra”, como se dizia.

“Comecei a escrever depois da escola, quando entrei no vazio do mundo adulto e na pressão de decidir um caminho”, comenta. Até 2013, escrevia em blogs. Então, surgiu a oportunidade de publicar de forma independente Café, amor e outras drogas (com contos crônicas e poesias), “sem editora nem ISBN”, e, na sequência, participou de duas antologias, dos Concursos Anuais Literários de Caxias do Sul – o primeiro prêmio veio em 2014, com o 2º lugar na categoria Conto, o segundo, na categoria Crônicas, com o 1º lugar.

Inquieto, também divulga seus escritos nas redes sociais: administra uma página e um blog chamados Bússola sem norte (onde a alma navega a esmo). Em 2015, mostrou-se novamente ao público caxiense com Tempestade de outono (Quatrilho Editorial/Editora Belas-Letras), com recursos do Financiarte. Sobre a obra, um romance policial – muito embora ele discorde do rótulo: “Há quem diga que se trata de um romance policial, mas o autor e o personagem discordariam dessa rotulação.”

Sobre o livro, considera: “Me abriu muitas portas e me lançou no mercado profissional da literatura. Foi muito gratificante, pois fui convidado para duas feiras de livros, em Caxias e Porto Alegre, e também para palestrar em algumas escolas.” A receptividade foi tanta que Tempestade de outono tem previsão de lançamento em espanhol no ano que se inicia, graças à iniciativa de um amigo que mora no Peru e que irá traduzi-lo (leia trecho a seguir).

Cético quanto ao mercado, diz que pretende, daqui por diante, publicar em formato e-book, apesar de ter comercializado cerca de 600 unidades de Tempestade de outono em um período de oito meses, “um número significativo”, crê. Mas não quer mais depender de verba pública, apesar de reconhecer que o mercado editorial está apertado e não investe em escritores novos. “Confesso que estou um pouco desiludido com a profissão, tanto que estou focando mais na música. Mas nem por isso deixo de escrever, mas é diferente, as poesias aparecem nas músicas.”

 

Trecho do primeiro capítulo, em português

 

(...) escrever qualquer porcaria pra preencher aquela visão branca e retangular infernal. Eu tentava de tudo. Incenso, música clássica, pensava como Tolstoi iniciaria um romance. Logo vinha a primeira frase de Ana Karenina: “Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes o são cada uma à sua maneira.” Que início magistral, será que um dia chegarei ao nível de um escritor russo? Eu sabia que não, nem minha barba chegaria perto. Essa conformidade já se elaborou há algum tempo, um leitor assíduo e crítico sabe se pôr no seu devido lugar. E o meu lugar era exatamente o anonimato e a vagabundagem de uma vida medíocre.”

 

Trecho do primeiro capítulo, em espanhol

 

(...) “escribir cualquier porquería para llenar aquella visión infernal, blanca y rectangular. Intentaba de todo. Incienso, música clásica, pensaba como Tolstoi iniciaría un romance. Luego venía la primera frase de Ana Karenina: “Todas las familias felices son iguales. Las infelices son cada una a su manera.” Que inicio magistral, ¿Me pregunto si alguna llegaré al nivel de un escritor ruso? Sabía que no, ni mi barba llegaría cerca. Esa conformidad ya se elaboró hace un tiempo, un lector asiduo y crítico sabe ponerse en su debido lugar. Y mi lugar era exactamente el anonimato y la vagancia de una vida mediocre.''

 

 

 

Dinarte Albuquerque Filho

Jornalista

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