talvez poucos conheçam, muito menos devem ter ouvido.
lido?
pouco creio.
mas ainda encontra-se nas livrarias o belíssimo livro de halina grynberg intitulado paulo moura: um solo brasileiro (casa das palavras, 2011), onde o instrumentista, ao longo de pouco mais de 100 páginas (calma, o livro tem o dobro, só q a segunda parte, depois de uma série de fotografias, é em inglês!), se revela uma alma sensível e criativa, espontânea e doce, cheia de improvisos.
como um solo de clarineta!
trata-se de uma série de entrevistas, permeadas por lembranças, feitas por halina (com quem esteve casado por 26 anos) realizadas entre 2008 e 2009 – paulo moura faleceu em julho de 2010, aos 77 anos.
músico em uma família de músicos, ele revela q começou a tocar aos nove anos, mas confessa q a música ‘começou a gostar dele’ por volta dos 16, 17 anos.
encantou-se com a clarineta, mas também desenvolvia sua arte no sax e se dedicava ao piano, no qual estudava harmonia e compunha.
acompanhou as melhores orquestras do Brasil, em rádios (como a nacional) e tevês (como a tupi), em palcos brasileiros e internacionais, desde os 19 anos, com a orquestra ary barroso, tendo o méxico como o ponto de partida para o reconhecimento do mundo, físico e musical.
natural de são josé do rio preto (sp), foi no rio de janeiro, q ele admitiu gostar ‘da poesia q habita essa cidade’ em q se instalou, ainda com a família, onde desenvolveu sua musicalidade; onde a família reunia amigos, instrumentistas e maestros, para comer pizza e tocar – enquanto ele ficava ‘sempre ali, coladinho, sempre prestando atenção na conversa deles’.
conviveu com pixinguinha, joão donato, radamés gnatalli, joão gilberto, arthur moreira lima, wagner tiso e sérgio mendes, entre outros; ouvia, entre tantos, charles parker e gismonti; gostava de usar paletó de linho branco, gravata e chapéu (‘um riso q baila na fronte’, segundo a entrevistadora/companheira), no rio,em londres, milão, nova york, paris, amsterdã...
passou dificuldades financeiras – lembrar q era um instrumentista brasileiro em um universo onde a música instrumental/orquestral tinha pouca projeção e reconhecimento; gravou seu primeiro disco, moto perpétuo, em 78 rotações: de um lado, a música título, de paganini (niccolò, compositor e violinista italiano, morto em 1840), do outro, o voo do besouro, de rimsky-korsakov (nikolay andreyevich, morto em 1908,militar, professor e compositor russo, mestre em orquestração); tinha 22 anos.
histórias não faltam ao longo das entrevistas/memórias: músico-leitor, leitor-músico, músico ou leitor, não deixe escapar este ‘solo brasileiro’; de quebra, pode lê-lo escutando o cd q acompanha a edição, com 10 músicas selecionadas por andré sachs, incansável amigo, a quem halita dedica estas palavras (e também a paulo): ‘a aparente espontaneidade e capacidade de improvisação de paulo moura se tornaram folclóricas apenas para aqueles que não alcançavam seu refinamento – brotado da fé quase infantil e de uma curiosidade sem fronteiras nem peias. (...) andré sachs: eis um eleito... (...) um pequeno aposento num pequeno apartamento no grande coração de andré e benita, sua linda companheira. ali, o som da clarineta parecia peixe em águas cristalinas, navegava, gingava, deslizava, nutria-se, resfolegava sob o olhar atento e o ouvido delicado do amigo. obstinado como paulo, sachs registrava, gravava, reproduzia, interferia em horas de admiração e reverência, horas de aprendizagem mútua acompanhados pela guitarra e clarineta’.
(quem ler, aproveite o embalo e leia também solo de clarineta, memórias do insuperável erico veríssimo; não terá nada a perder e aquecerá a alma um pouco mais!)
Dinarte Albuquerque Filho
Jornalista, poeta e professor
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