a quem procuras? estás à procura de quem, amiga?
tão distante de minhas mãos,
ainda sinto o calor do teu corpo,
ainda acalento a ideia de um dia
voltar a repousar meu membro
entre tuas coxas macias,
compartilhar existências ao teu lado,
enamorado e febril
fascinado pela tua inteligência e beleza
e outras qualidades q te enobrecem.
enquanto isso não acontece,
me pergunto: a quem procuras?
entre tantas possibilidades,
como fui o escolhido?
como me sobressaí no anonimato da cidade
mas, q ser fui eu
se nem ao menos soube
manter-me íntegro para merecer-te?
sei q me amaste, sei q me quiseste.
e eu, parvo adorador das noites e da escuridão,
néscio, teimoso e tolo, cego de amor e solidão,
não soube entender a entrega,
não soube lidar com a refrega.
acreditei, apenas, no meu instinto,
e na poesia de cada dia,
e esqueci-me das questões práticas.
e agora eu me pergunto: o q procuro?
o q pretendo percorrendo as avenidas vazias,
os bares esfumaçados, os corpos fúteis de mulheres dúbias?
o q resta do meu amor por ti?
só saudade?
miríades de miragens e outras tantas bobagens?
néscio, teimoso e tolo, cego de amor e solidão,
quebrei q cara ao deparar-me com a existência
da companhia perfeita, da companhia afeita
a ajudar-me, a me amar, a querer-me.
agora, o q procuro?
não sei.
sei q já não sou mais o mesmo,
q ando a esmo pelas esquinas,
q me visto e caminho feito autômato
pelas madrugadas sem eira,
de segunda a segunda-feira,
fantasma, sombra do q um dia fui.
alguns momentos feliz, outros nem tanto,
convivendo com meu banzo, ouvindo um blues,
rouco de tanto fumar,
olhos vermelhos por não dormir,
lembrando das noites e das pernas enrodilhadas
sob edredons e vinhos e estrelas na transparência da janela,
de onde olhávamos a cidade e antevíamos perspectivas
para uma vida feliz.
mas, por um triz,
os bons momentos esvaíram-se.
Dinarte Albuquerque Filho
Jornalista, poeta e professor