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Uma vida em atos solitários
07/11/2021 22:38 em Crônicas

Por Moah Sousa

 

 

Pedro Paulo nunca foi um cara para pedir desculpas em coisas do amor. Não por prepotência, tipo peito empinado, daqueles dando ares de tudo saber sobre as dores das paixões. Ele sempre admitia as porcarias que fazia nas noites e nos dias, mas recusava-se a vergar, a frequentar terapias, ongues e academias. A vergonha, no caso, seria muito maior. Pepê, apelido da infância, também nunca foi do babado forte e tampouco um porco capitalista forrado de plata. Embora batizado em pia de catedral, não virou católico e jamais deu bola pra qualquer tipo de religião. Preferia levar o mundo e a vida sem culpas. Desde menino, gosta da cor violeta e de certas vocalistas orientais. Nunca foi um punk burro da periferia e muito menos um nerdizinho bundinha de apartamento de jardins. Talvez, um tímido. Quem sabe, um solitário. O que se fala por aí é que seu coração pulsa no compasso das falsas manchetes dos telejornais que movimentam o mundo. Não seria louco, portanto, vinculado à conspiração, tópicos subversivos, entreveros e o fim do sigilo sobre as coisas do coração. Com mais de trinta anos nas paletas, ele se acha um dos últimos românticos da turma do lado B. Nunca manejou e jamais desejou tocar flauta. Urbano ao extremo. Numa temporada de férias, de parceria com um guitarrista amante da nicotina, foi atacado por fungos diversos e bichos de pé num verão em Tramandaí, no litoral gaúcho. Conheceu zonas de putarias banhadas pelo Atlântico. Pegou chato, gonorréia e “crista de galo”. Na imprensa disse que sempre gostou de sorvete de creme e suco de caju. Beijo na boca e queijo gorgonzola. Enfatizou que adora mulheres de todas as cores, tangos e músicas do Arrigo Barnabé. Há anos, está estabelecido em um apê na Avenida Duque de Caxias, em Porto Alegre, com vistas pro Rio Guaíba, onde passa os dias fungando e esgravatando unhas. Organizando livros e discos de vinil. Desdobrando credores e contadores, nos telefones e nas redes sociais. Nos fins de tarde, Pepê desliga tudo, dá um tapa no baseado, pensa em casamento e bate sonoras bronhas, sempre mirando pra Ilha da Pintada, como se ela fosse a mais bela bunda do sul do Brasil.

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