Por Moah Sousa
Grafite: Panmela Castro
Não faz muito, uma mulher foi assassinada dentro do barraco onde atendia a freguesia. Tudo do ladinho do portentoso edifício do TRF - Tribunal Regional Federal da 4ª Região - no Centro Histórico de Porto Alegre.
Na época, o investigador da polícia, um homem de vistosa pança cardíaca, informou à imprensa que não tinha nenhum suspeito. "Vamos investigar tudo", garantiu.
A filha caçula da vítima, barrigudinha e de canelas finas, porém, sabia muito bem quem havia batido, tirado sangue e apertado o pescoço da sua protetora.
Pelas frestas da divisória de duas peças, ajeitada com ripas de caixas de maçãs de Vacaria, ela sempre ouvia e assistia tudo que a mamãe fazia. A dita autoridade, entretanto, nada lhe perguntou.
De cabeça baixa, a miudinha ficou num canto chorando bem baixinho. Ela não tinha qualquer tipo de poder. Só tinha a inocência. O silêncio. O choramingar. E a intolerável dor da perda expressa em seus olhinhos.
Dias depois, enterraram sua mãe num cemitério público ao lado da cova dum ex-carrancudo parente distante. Tudo pra não virar um número de indigente. Não teve flores e nada de velas.
Na sofrida despedida, um repórter com óculos preparados para manchetes certamente notaria as gotas de lágrimas que pingavam feito chuva nos pezinhos descalços da menina. A órfã do vizinho, perverso e injusto Tribunal Federal.
O assassino segue solto. No ofício do redator, o difícil mesmo é tomar notas.