"Deus está morto; sua piedade pelos homens matou-o". Assim descortinou, de forma sombria, em seu tempo, o filósofo alemão Nietzsche.
Esta constatação bíblica parece ter guiado o escritor Bruno Paes Manso na produção deste livro, A República das Milícias, uma obra intensa que deveria se tornar obrigatória nas escolas primárias brasileiras. O autor pesquisou muito e, em salgado e ligeiro texto cheio de faíscas, banha o leitor com as ondas das artimanhas do crime organizado e das milícias 'legalizadas'.
Como reporta na narrativa, eles tomaram conta da periferia largada à bangu pelo Estado, se infiltraram e dominam os Poderes Executivo, Judiciário e Legislativo. Especialmente no Rio de Janeiro, um território castigado pelos desmandos, corrupção e que sobrevive por conta das infinitas belezas de sua gente, entre elas, a unidade na resistência.
Partindo da execução da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), Manso mostra ao leitor como e porque um bando assassino tomou conta do Rio e do Palácio da Alvorada, assumindo o comando do impávido colosso e o tornando um dos países mais violentos do mundo.
Neste cadavérico cenário, se vivo fosse, o filósofo alemão constataria que, além da montanha de mortos brasileiros no cotidiano pandêmico, notaria as tais elites do bem cantarolando em apoio aos governantes fascistas: "Aí meu Deus, eu só quero chocolate e uma mansão de 6 milhões pra gazetear em Brasília".
Na certa, imunizados na base do "fura-fila" da vacina, vendo o velório passar cantando coisas do ódio. Tudo com o afago da mão do pai de Jesus Cristo.
Serviço
Livro: A República das Milícias
Autor: Bruno Paes Manso
Editora: todavia
Volume: 300 páginas